Filho de supernumerários sofre...

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Enviei há algum tempo atrás um breve relato sobre minha experiência (tanto passada como presente) com a obra e seus membros, alguns deles até com laços familiares. Gostaria de relatar um pouco de como é a vida de uma pessoa que sempre viveu rodeada da 'filosofia', se é que se pode ser chamada desta forma, de vida do opus dei de como ela influencia a vida das demais pessoas.

Nasci num berço católico com pais, avós e tios todos fiéis a Igreja e a Deus. Minha educação foi sempre baseada nos princípios morais cristãos e na doutrina da igreja católica. Até aí existem diversos iguais a mim, entretanto o pequeno diferencial desta educação é que sempre existiram toques da 'excelente' forma de conduzir uma família proposta pelo opus dei.

Filho de supernumerários sofre. Sofre quando não quer participar de eventos propostos pela obra. Sofre quando não quer ir ao centro assistir a uma palestra, ir a um retiro ou convívio e sofre pelo simples fato de não querer partilhar da mesma ideologia dos pais e querer viver a vida de uma forma diferente e independente.

Filho de supernumerários sofre quando pede dinheiro aos pais para fazer uma viagem com os amigos e lhe é negado. Sofre quando pede dinheiro para sair e fazer um programa saudável e sem nenhum mal como ir ao cinema, e lhe é negado. Agora, quando o filho pede dinheiro para fazer um convívio, ir a um retiro, fazer um passeio dito cultural, para dar ao centro como ajuda aí sim não há problema. Aí o pai supernumerário abre a mão, paga até a vista um convívio de 5 dias gastando uma quantia que é muito maior comparada a que outrora fora solicitada .

Gostaria de entender um pouco melhor como funciona a 'função' de um supernumerário dentro da obra. Sei que ele responde diretamente ao seu diretor e que faz tudo que lhe é mandado e segue a risca todas as recomendações. Agora uma coisa que sempre me intrigou foi o fato de esses diretores darem pitacos no modo como o supernumerário deve conduzir o andamento da família. Como alguém que nunca foi casado, não tem filhos, sempre viveu num ambiente de homens sem um relacionamento mais estrito com alguma mulher, sem a menor experiência em vida conjugal e no trato de filhos pode dar algum palpite, sugestão e mesmo imposição do modo como se deve ser conduzido o dia-a-dia de uma família seja ela numerosa ou não?

Algumas coisas que descobri ao longo do tempo foi que supernumerário deve dar uma parte do seu salário para o opus dei como forma de colaboração. Isto procede? Existe um percentual fixo ou vai de generosidade (leia-se da capacidade de persuasão do diretor) de cada um? Como um pai supernumerário que se nega a dar um pouco do que é seu aos filhos se abre totalmente e entrega quantias consideráveis na mão de uma instituição onde ele nem sabe bem o que irão fazer com o seu dinheiro. Isto é algo que sempre me revoltou e sempre fui contra.

Não sei se existem ex-supernumerários aqui. Nem sei também se esta é uma coisa muito comum de se ver visto já que os problemas que muitos numerários vem reportando aqui não se aplicam a esta categoria dentro da obra. Entretanto gostaria de que algum ex-supernumerário que por acaso leia este breve depoimento possa clarear um pouco minha cabeça afim de entender melhor este mundo que eles vivem. As vezes penso que eles estão totalmente alienados da realidade. Centralizam suas vidas num círculo que se resume ao trabalho, centro, igreja, colégio da obra (leia-se Catamarã) e só. Vivem numa bolha de vidro, num hall de amizades consideradas as melhores, as mais corretas, os bons. Quem não faz parte do clubinho de amigos ou não se mostra disposto a colaborar com a obra é visto com desprezo e até falta de caridade. Tentam o tempo todo conseguir mais gente afim de colaborar com a osuc, assinar o círculo de leitura, dar uma passadinha na pedreira e outros meios de se angariar fundos para o crescimento da obra (que por sinal já não se expande há algum tempo pelo Brasil).

Enfim, minha idéia aqui era escrever um pouco mais sobre como vivem os filhos de supernumerários numa família onde o opus dei já está enraizado há 2 gerações. Tentei expor alguns dos pontos que acho que fazem com que a vida e o relacionamento entre pais e filhos seja prejudicado. O ponto onde quero chegar é que muitos relacionamentos problemáticos entre filhos de pais supernumerários é culpa da obra. É culpa dela por impor na cabeça do membro que o mundo é um antro de gente ruim, que a vida mundana nos afasta de Deus e que a vida longe da obra não traz felicidade. É mentira! A única verdade nisto é que fazendo com que o supernumerário pense e aja deste jeito só irá fazer com que os filhos se afastem cada vez mais deles.

Queria agradecer a uma pessoa que lê o site e que me fez abrir os olhos e enxergar a razão para algumas atitutes sempre presentes no convívo familiar. Obrigado! Voltarei a escrever num futuro não muito distante.

Dimitry