Sair do Opus Dei, um grande alívio

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Acabei de ler este livro neste final de semana. Literalmente eu o devorei em três dias. Como ex-numerário da Obra senti na pele a maioria das coisas que foram escritas neste livro e de uma certa maneira me senti "vingado" com este livro.

Conheci a Obra em 1974, no centro do Itaim, quando funcionava na Rua Lopes Amaral. Quem me convidou foi o Aluísio Cintra, que me parou na rua. Realmente foi uma satisfação para mim todos do centro serem extremamente simpáticos e interessados em mim. Todos muito alegres e sempre de bom-humor. O Chico Ramos era o diretor, lembro do Paulo Santos, do Eugênio Calioli e do Padre Saldanha.

Comecei frequentando o centro p/ estudar, depois fui na palestra de sexta-feira e quando vi eu ia todos os dias da semana, inclusive sábados e domingos. Em 1975, eu apitei e nessa época meus pais já conheciam a Obra e frequentavam as reuniões de supernumerários. Em 1976 fui morar no Centro do Itaim e, em janrieo de 1977, fui para o Centro de Estudos do Sumaré.

Até ai ainda não tinha captado por completo o que significava aquela vida de sacrifícios e abnegações. Foi a partir dessa época que muitas coisas começaram a me incomodar e a tornar a minha vida um inferno. Foi nessa época que conheci um dos autores deste livro, Jean Lauand, que também morava no Centro de Estudos, e me chamava a atenção pela sua perspicácia, inteligência e bom-humor. Finalmente acabei saindo da Obra em 1978, no início do ano. Foi um grande alívio voltar para a casa de meus pais. Da mesma maneira que eles concordaram quando fui morar na Obra, eles me acolheram de volta em casa. Graças ao carinho e dedicação deles acabei aos poucos me recuperando do trauma. Logo depois entrei na faculdade de Arquitetura e fazendo amizades e a vida continuou.

Mas mesmo assim, até poucos anos atrás, eu sempre sonhava que tinha voltado para a Obra e aí não tinha volta. Eu me encontrava num centro enorme, com muitas pessoas, e eu me via na situação de ter que conversar com o diretor e era terrível. Eram os piores pesadelos que eu tive na minha vida, porque parecia muito real. Quando acordava eu sentia um grande alívio.

Hoje guardo recordações de pessoas com quem eu convivi e que gostava muito. Ao ler este livro, realmente pude entender os porquês de todas aquelas normas, proibições, regulamentos e manipulações sobre nossas vidas. Meus pais até morrerem sempre contribuiram financeiramente, seja pela Osuc, Afesu, conprando os livros do Clube da Leitura, da Quadrante, nos almoços, pagando o Clube Náutilus para os meus sobrinhos, etc. Quando minha mãe fez uma cirurgia para retirada da mama, pois tinha um tumor, nunca vi ninguém da Obra visitá-la, nem no hospital, nem em casa.

Quando eles morreram, também ninguém apareceu. Minha mãe passou muitos anos fazendo ajour e bordados nas toalhas dos altares dos centros da obra e das roupas dos sacerdotes, dia e noite. Quero parabenizar a iniciativa dos autores deste livro pela coragem e pelo serviço e alertamento das famílias e das pessoas em geral para o Opus Dei. Gostaria muito de um dia conversar com o Jean Lauand. Acho que talvez ele se lembre de mim. E fico contente de ele ter se livrado deste pesadelo.

JC