Opus Dei: Organização de Resultados - Marketing e realidade

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Diversos analistas deste site têm insistido em uma constante, e vale a pena recordá-la para que possamos compreender o "sistema operacional" do opus dei. Pois, de fato, sem esse princípio o fenômeno opus dei aparece como extremamente complexo, contraditório e indecifrável. Por outro lado, basta enunciar o princípio fundamental e todas as peças do quebra-cabeça, aparentemente sem nexo, formam uma imagem coerente e nítida.

O emaranhado de disfarces com que a obra se transveste torna praticamente impossível para os "de fora" (principalmente para aqueles que são cooperadores há anos e pensam que conhecem a obra...) apreender a verdadeira realidade da prelazia. Na verdade, porém, não se trata de contradições nem de disfarces; trata-se, isto sim, de um pragmatismo coerente com os princípios. E, uma vez compreendidos esses princípios, o fenômeno opus dei torna-se facilmente apreensível.

Princípio Fundamental (PF)

O princípio fundamental (PF), a Grundnorm, do opus dei é um só: crescer, aumentar o número de membros, aumentar o número de centros, aumentar a arrecadação de colaborações econômicas, aumentar seu poder e influência na Igreja e no mundo etc.

O objetivo fundamental do opus dei NÃO é servir a Igreja, NÃO é amar o Papa, NÃO é promover a santidade no meio do mundo, NÃO é fomentar a vida de oração em seus membros, não é nenhuma outra coisa a não ser seu próprio crescimento.

Naturalmente, para atingir esse objetivo principial, pode fazer e faz esforços incríveis para agradar o Papa (/ cardeais / bispos etc.), pode até cuidar de pobres, pode ensinar a se cumprir um plano de vida puxado (orações e mortificações), fazer seja lá o que for, desde que seja para o crescimento do opus dei.

Em atenção ao PF, o opus dei usará todo seu poder de organização - a obra é talvez a organização mais compacta da história - para as tarefas operacionais que, segundo seu governo central, traduzem, em cada caso, o PF e seus derivados: não permitir que seu verdadeiro modo de proceder venha à tona (evitar cuidadosamente exposição na mídia); angariar a todo custo a simpatia dos bispos e dos hierarcas da Igreja, etc.

E como, para os membros, a obra é de Deus e "o céu está empenhado em que se realize", é estimulada uma mentalidade de vale-tudo (que inclui mentiras, manobras e "espertezas", muito valorizadas na obra: os membros mais velhos - especialmente os espanhóis - adoram essas "pillerías" e praticá-las dá status interno: o "esperto" é valorizado, elogiado e suas façanhas são comentadas na intimidade das tertúlias, muito especialmente se delas derivou algum bem, de acordo com o PF da obra).

Alguns exemplos ajudar-nos-ão a entender o que expusemos até aqui.

As visitas do Papa ao Brasil (a de 1980 e as outras)

Para os que não se lembram, a obsessão do Opus Dei durante anos (até 1982) era a "intención especial", aquela especial intenção do Fundador, pela qual se ofereciam a Deus muitas mortificações, muitas operações cirúrgicas, muitas vidas (inclusive a do próprio Escrivá...). Quando havia algo realmente duro (uma doença, um desgosto) na vida de um numerário, o conselho dado na direção espiritual era o de oferecer aquilo pela "intenção especial". Não se sabia o que era essa intenção especial, entre os mais velhos sussurrava-se que se tratava do enraizamento da Obra na estrutura jurídica da Igreja, o que só viria a ocorrer em 1982, quando o Papa erigiu a obra em Prelazia Pessoal.

Em 1980, João Paulo II, recém-entronizado, vem de visita ao Brasil. Como, segundo o Fundador, "en el Opus Dei no hay plaza de tontos" veio de Roma a ordem: impressionar o Papa, fazê-lo pensar que o opus dei está presente e ativo em todo o Brasil e assim tapar a boca dos críticos. E começa no opus dei do Brasil (modestamente presente, na época, apenas em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e em um par de cidades do interior de São Paulo) uma autêntica operação de guerra: mobilizam-se praticamente todos os membros, não se deixam de fora nem os supernumerários e os cooperadores. Nos centros, formavam-se equipes para pintar - madrugada a dentro - faixas e cartazes, com os "códigos" opusdeísticos já conhecidos do Papa ("Univ", "Univ, viva o Papa", "Univ, Totus tuus"...). A idéia era a de aparecer na mídia e fazer o Papa ver a onipresença do opus dei: era muitíssimo valorizado, por exemplo, furar a segurança e conseguir dizer ao Papa "Santo Padre, eu sou do Opus Dei".

Organizaram-se escalas de quem iria para Brasília, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza etc., cidades em que nem em sonho a Obra estava presente naquela época. E em todos os recantos do Brasil, o Papa ficaria com a impressão de que o país todo estava evangelizado pelo opus dei: aparentando uma presença cem vezes maior do que na realidade.

Em Curitiba, o Papa chegou a cumprimentar nominalmente o Opus Dei no Centro Cívico, para perplexidade dos católicos curitibanos que nem sabiam o que era Opus Dei e para euforia dos diretores que marcaram um ponto importante: a impressão que dava era a de que metade do Centro Cívico era da obra.

Oficialmente, a argumentação era a de que se tratava de mostrar carinho pelo Papa... (para os mais "encaixados" deixava-se cair: ...o carinho que era negado ao Papa pela maioria dos bispos e pela Teologia da Libertação...).

Havia em tudo isto uma contradição: o opus dei, de acordo com seu Fundador, nunca age em grupo, menos ainda publicamente. Tinha-nos sido repetido à exaustão que a obra tudo o que faz é dar formação para que cada um, individualmente, faça o que bem entender, mas nunca atue em grupos etc.

E de repente..., de repente vemos o opus dei organizando caravanas e manifestações públicas...!!!

Mas é que, neste caso, o Papa precisava de carinho, do carinho da obra. Porém, nas demais viagens do Papa ao Brasil, posteriores a 1982 (o Papa já havia erigido a obra como Prelazia Pessoal, a tal da "intención especial") nem tchum... o Papa que ficasse entregue aos bispos e teólogos da TL. Aos numerários mais ingênuos que perguntavam: "O papa está de volta ao Brasil, vamos a Cuiabá recebê-lo e gritar 'Univ...'?" a resposta oficial foi que "o opus dei, de acordo com nosso Fundador, nunca age em grupo, menos ainda publicamente: tudo que a obra faz é dar formação para que cada um, individualmente, faça o que bem entender, mas nunca atue em grupos etc.". Claro que nenhum numerário foi tão trouxa a ponto de pedir dinheiro (que obviamente ia ser negado...) para ir a Cuiabá ou mesmo ali na esquina gritar "Univ, viva o Papa"...

Sem o PF tudo isto é incompreensível e contraditório; com o PF é claro como a luz do dia: em cada caso se tratava simplesmente do oportunismo pragmático: avaliação do custo-benefício de "mostrar carinho" ao papa versus gastos e mobilizações. Ou, vamos falar claro: farisaísmo.

Por que "Univ"?

Mas o que é "Univ"?

Todos os anos, desde a década de 70, por ocasião da Páscoa, o opus dei organiza uma semana de "convívio" internacional em Roma (com a sigla Univ), sob o pretexto de um Congresso para discutir algum tema (o que na realidade mal ocorre: ninguém está interessado no tal Congresso, que é só um disfarce para o que realmente interessa: arrancar vocações para a obra). Pois, para além da fachada do tal "Congresso", o que interessa são as tertúlias com o Prelado e a "tertúlia" com o Papa, a recepção do Papa aos participantes do "Congresso...".

Cada país envia um grupo de rapazes (do Brasil, digamos, uns 12; da Espanha mais de mil) e de moças (rigorosamente separados, nenhum rapaz troca uma palavra com uma moça) para “conhecer melhor” o espírito da Obra (conhecer o Prelado e o Papa) e receber forte pressão para apitar.

Praticamente não há turismo, exceto o turismo "interno" (conhecer os pontos históricos da Obra na Espanha - antes de ir para Roma - de Madrid a Torreciudad, conhecer Villa Tevere, a tumba do Escrivá etc.).

Mas detenhamo-nos no encontro com o Papa. Aí o marketing do opus dei atua da maneira mais pragmática possível. Entre canções e performances divertidas pretende-se mostrar ao Papa aspectos do apostolado da obra, de sua extensão universal e profundidade.

O Papa está absolutamente indefeso, tão indefeso como os rapazes que freqüentam a obra, digamos, em Buenos Aires ou Munique e que também estão lá na tertúlia. Vamos tomar um caso típico, realmente ocorrido. Para uma dessas tertúlias com o Papa mandaram a Roma um rapaz russo que freqüentava algum centro do opus dei na Espanha (se tanto). Como se trata de "dar alegrias ao Papa e que o Papa descanse", aparecem 101 rapazes vestidos com trajes típicos russos, cantando em russo para o Papa... (naturalmente, 101 é um número aproximado, como na piada do sentinela do Forte Apache: "'Capitão, capitão, os índios estão atacando! ' 'E quantos são?' 'Uns 3001!' 'Como sabe?' 'É que vem um na frente e uns 3000 atrás)"

A canção fala de esperança... João Paulo II, cujo sonho frustrado era o de poder ter ido à Rússia, se emociona, canta junto e aplaude. Ao final, o rapaz russo se dirige à cadeira do Papa, deixando os outros 100 cossacos de fora (na realidade, esses 100 são espanholíssimos, da Univ. de Navarra/Colégio Mayor Aralar, fantasiados de russos), ajoelha-se diante do papa e diz em seu russo natal:

"Santov Padrev, seus filhoskis russoskis do opusdeivitch estão unidovskis em oração à Sua Santidade e rezandov para que muito cedo possamos gritar 'Univ, viva o Papovski' em Moscou".

O Papa responde em russo e depois traduz uma palavra de estímulo e gratidão pela coragem apostólica e sacrificada do opus dei.

O Papa, indefeso, mordeu a isca, como mordem a isca os rapazes argentinos ou alemães, antes dessa tertúlia indecisos em sua vocação... A partir de agora, ser-lhes-á buzinado no ouvido: "Entra logo para a obra, você não ouviu o apelo do papa: sem sacrifício não se faz a Igreja..."

Nesse mesmo ano, nesse mesmo Univ (alguns de vocês talvez tenham visto o vídeo), aparecem 23 "japonesas" de kimono e penteado típico e dançam para o Papa... ao final, a mesma encenação: as 3 japonesas vão beijar a mão do Papa (as outras são de Sevilla), que fica convencido de que o Japão já está praticamente convertido... pelo opus dei.

Por falar em Aralar (Colegio Mayor de Pamplona), o Jean contou da conferência que ele ministrou lá em 1998, pouco tempo depois da conferência dada pelo então cardeal Ratzinger. Nessa ocasião, alguns dos assistentes comentaram com o brasileño Jean que há um acordo tácito entre os residentes (os que não pertencem à obra) para essas conferências: se sair tudo bem (se comparecerem e não ficarem com a cara de "saco cheio" - ver foto - como nas demais as atividades obrigatórias da obra), se o cardeal gostar, farta distribuição de conhaque e bombons para todos.

Fazer esse tipo de marketing com bispos e cardeais (os cardeais são apenas cento e poucos) sai barato... e rende muitos frutos...