Obediência cega e eficaz

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No Opus Dei todos são programados para «obedecer cegamente», sem questionamentos de nenhuma espécie, segundo palavras do próprio fundador. Numa organização militar, em situação de guerra, agir desta maneira pode ser uma necessidade. No entanto, não é possível entender porque isso deve ser praticado na vida pessoal e profissional de cidadãos livres. A situação fica ainda mais ridícula quando o “soldado” recebe instrução do “sargento” para atirar contra um exército aliado e, horas depois, recebe ordens do “general” para fazer as pazes (imaginem!) com os ex-aliados. E tanto o sargento quanto o general fingem que o único culpado por tudo isso é o soldado... Digo isso porque, a obediência no Opus Dei o faz tão eficaz quanto o Exército Mexicano. Fui numerário da prelazia e, como a maioria deles, fui prejudicado pela arbitrariedade com que são tratadas as questões profissionais e pessoais dos seus membros.

Em 2001, estava trabalhando em uma grande empresa de informática. Como membro numerário, eu deveria participar de uma atividade interna da prelazia denominada “curso anual”, destinada à formação (entenda-se por “formação” lavagem cerebral) de seus membros, que se parece com uma temporada “agradável” em um campo de concentração nazista. Bem, o departamento da empresa em que eu estava trabalhando passava por sérias dificuldades, e a empresa certamente teria prejuízo se eu me ausentasse por 3 semanas, conforme o desejo da prelazia. Expliquei esta situação ao diretor do meu Centro, mas ele me disse que eu deveria insistir com o chefe para ter as minhas três semanas disponíveis. Além disso, ele me disse que, caso o chefe não cedesse, seria preciso pedir demissão. Muito bem, fiz tudo como foi mandado, e cheguei ao ponto de pedir demissão. Neste ponto, tenho que elogiar muito meu ex-chefe, o Sr. J.A., pois ele realmente não queria que eu me demitisse, e valorizava muito meu trabalho, apesar da situação em que o departamento se encontrava. No entanto, insisti em que eu precisaria viajar e, por isso, pedi demissão.

Estando as coisas assim, no dia seguinte eu estava na empresa, finalizando as pendências, e recebi um telefonema do diretor do Centro. Qual não foi o meu despeito, ao saber que ele tinha falado com os superiores do Opus, e que estes eram contra meu pedido de demissão... Que ótimo, pensei, existe alguém sensato no meio desta loucura! Por outro lado, também me lamentei que já havia feito um estrago razoável em minha reputação profissional, e que seria preciso juntar os cacos. Muitíssimo contrariado, fui falar com o Sr. J.A. para reconsiderar a minha situação, ou seja, que eu não mais me demitiria. E ele, com uma nobreza e um cavalheirismo incomparavelmente maior que de muitos “santos” da prelazia, aceitou minha nova solicitação sem o menor resquício de mágoa ou agressividade. Qualquer outro, no lugar do meu chefe, teria me dado uma descompostura homérica, e com toda a razão!

Depois deste episódio, perdi muito de minha motivação profissional pois, estando dentro da prelazia, estava sujeito a este tipo de situação. Fazendo parte da prelazia, não é possível assumir responsabilidades profissionais, pois essas questões são vistas como desprezíveis para os diretores, a não ser que... A NÃO SER QUE O SALÁRIO SEJA GORDO, como era o meu caso. Isso fez com que o assunto tivesse relevância para a alta direção do Opus, que interviu para evitar que a fonte de recursos do “apostolado” não secasse. Santa inocência a minha! Em meu desprendimento, não percebi que o meu salário me dava poder de negociação com os diretores da prelazia. Vivendo e aprendendo!

Felizmente, minha carreira profissional tomou outros rumos depois disso, e recuperei minha motivação. Considero que, nestes caminhos que percorri, encontrei fora do Opus Dei valores e atitudes muito mais justas, nobres e verdadeiras do que dentro da Prelazia. Pena que o Opus Dei seja parasita de tudo isso para levar adiante seu ranço destruidor carente de sentido.

Confiança a toda prova

Quando disse à minha mãe que eu havia entrado no Opus Dei, ela me sugeriu que eu fosse a um psicólogo para ver se tudo estava indo bem comigo. Eu não me resisti à idéia, inclusive achei interessante. Como eu considerava que eu tinha tomado a decisão sem nenhum tipo de coação (ai, ai, de novo a santa inocência...), pensei: se o Opus Dei é bom, então resiste a qualquer prova. No entanto, a pessoa que me orientava dentro do Opus Dei disse que eu não poderia ir ao psicólogo, alegando que os psicólogos eram pessoas desorientadas e sem princípios. Obedeci idiotamente, e por isso me recusei a ir ao psicólogo.

Onze anos depois, quando pus em xeque minha vocação ao Opus Dei, diante do diretor, ele me recomendou que fosse ao psicólogo!!! Por alguma força sobre-humana consegui segurar todas as ofensas mais execráveis e terríveis que deveria ter vociferado naquele momento! E de certa forma foi bom ele ter dito aquilo, pois não havia mais o que questionar, a minha decisão de sair daquele inferninho ficou imediatamente solidificada. Bem, e quem tem dúvidas sobre o assunto, pode ter certeza de que o psicólogo ao qual me enviariam seria um do catálogo de “pelegos” da prelazia.

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