Ex-membros pedem à Santa Sé uma investigação sobre o Opus Dei

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Quarenta ex-numerários de diversos países do mundo, entre eles o Brasil, entregaram em quatro discastérios da Cúria vaticana um importante documento. Nele, pedem para que “a autoridade eclesiástica competente abra uma investigação a fim de esclarecer as circunstâncias concretas da atividade interna do Opus Dei e solicite à Prelazia acesso a todos os documentos internos nos quais se comprova o que aqui afirmamos quanto aos abusos que se praticam ‘em nome de Deus’, como se fossem aspectos singulares do carisma fundacional”.

Com base nas informações proporcionadas pelos sites: http://www.opuslibros.org http://www.opuslivre.org e http://www.ordan.org, além de outras fontes paralelas, é inquietante observar o modo como os dirigentes do Opus Dei estão violando o direito eclesiástico e civil:

Confusão entre governo e direção espiritual
A chamada “conversa fraterna” que se realiza semanalmente no Opus Dei, na qual os membros abrem sua consciência a seus diretores é uma prática que supõe a mistura de governo e direção espiritual. Um procedimento paralelo é o costume de falar com o sacerdote antes ou depois da obrigatória confissão semanal, justamente para que ele possa fazer uso da conversa quando for necessário, sem que tenha de guardar o sigilo sacramental. Existe inclusive uma práxis que leva alguns sacerdotes a negarem a absolvição sacramental a quem não aceite essa mistura de governo e direção espiritual. De fato, a direção espiritual na Obra não é individual, uma relação interpessoal, mas coletiva, despersonalizada, “é a Obra que dá direção espiritual”, conforme registram os documentos internos. Tudo isso agride o direito à intimidade pessoal, protegido secularmente pela Igreja mediante o sigilo sacramental, entre outros instrumentos. [1]


Não-cumprimento da lei eclesiástica
que proíbe a menores de 18 anos ingressarem na vida religiosa, recorrendo à figura do “aspirante”, figura que não aparece nas constituições da Obra apresentadas à Igreja, mas apenas nos documentos internos hoje conhecidos pela denúncia de ex-membros. [2]


Mentira habitual perante as autoridades eclesiásticas
às quais não se entrega a totalidade dos documentos que regem a Prelazia, mas apenas uma versão simplificada, e manipulada, desses documentos.


Desprezo habitual pelas normas morais e civis relativas ao uso do dinheiro aos negócios e às obrigações fiscais
Como demonstrou Dennis Dubro, ex-numerário norte-americano com experiência na gestão econômica praticada pelo Opus Dei, os dirigentes não se privam de realizar negócios claramente imorais ou ilegais, ou de manipular as informações a respeito. [3]


Ausência ou manipulação da informação
que os dirigentes entregam com relação a nomes, cifras de membros, situação atual, balanço das saídas etc., estabelecendo-se uma verdadeira opacidade institucional sobre a vida interna da Prelazia.


Conversão das relações internas num sistema de exploração individual
mediante um uso aberrante dos compromissos de pobreza, castidade e obediência, que converte a organização em verdadeira seita, pela alienação da liberdade individual em nome da obediência cega, pela ausência de direitos em nome da entrega, pela justificativa da mentira e da manipulação em nome da salvação, pelo recurso à ambigüidade e à escassa informação (para não dizer claramente da verdade) aos mais jovens ou àqueles que estão para ingressar na Obra, pelo recrutamento ou proselitismo baseado na coação, pelas ameaças contra a salvação pessoal no momento de se deixar a instituição, pela ausência de uma atitude de exame e auto-crítica em nível institucional. Na Obra, existem metas de recrutamento mensais ou anuais que cada membro deve atingir, metas cuja existência as pessoas que se aproximam da instituição desconhecem. A Obra utiliza “organizações e atividades de fachada” para recrutar novos prosélitos: colégios, centros culturais, clubes para crianças, cursos profissionalizantes, atividades para jovens etc. A Obra força seus membros a um afastamento gradativo da família, proíbe que esses jovens tenham fotos de seus familiares nos quartos, inculca um utilitarismo proselitista que dificulta aos membros cultivarem amizades que não dêem “esperanças de vocação” para a Obra. Constata-se na Obra a incidência crescente da depressão nervosa nos numerários, dando espaço ao uso de forte medicação que afeta, sobretudo, as pessoas cujo bloqueio psicológico forçado pelos superiores lhes impede de exercer a liberdade e abandonar a instituição. E esta situação se agrava quando se produzem tragédias como enfermidades mentais e suicídio de membros, cada vez mais freqüentes, realidades das quais suas famílias tomam conhecimento de modo abrupto. [4]


Negligência na atenção das necessidades materiais dos membros que abandonam o Opus Dei
Há membros, especialmente mulheres e sacerdotes, que dedicaram trinta, quarenta anos de sua vida ao Opus Dei, e que saem sem ter podido fazer economias, e nem mesmo, em algumas circunstâncias, as contribuições para a Segurança ou para a Previdência Social, segundo as leis de cada país. Somente mediante o recurso à eventual denúncia pública, conseguiu-se que o Opus Dei, em alguns casos, ajudasse pessoas que decidiram sair da instituição em tão precária situação econômica. [5]


(Segue uma lista com nomes de quarenta pessoas, ex-numerário@s, ex-adscrito@s e ex-sacerdotes da Espanha, Portugal, Itália, Estados Unidos, Canadá, México, Costa Rica, Peru, Brasil e Argentina).

Documento entregue em Roma aos Prefeitos das Congregações de Bispos, Doutrina da Fé, Sacramentos e à Secretaria de Estado, no dia 27 de outubro de 2005.

Notas

  1. Antonio Esquivias, “Dirección espiritual”. O Governo espiritual de facto é exercido, no dia-a-dia da imensa maioria dos fiéis da Prelazia, por Conselhos locais compostos na sua maioria por leigos que não são capazes da sacra potestas (cânon 129 do CIC de 1983) nem recebem (porque não podem receber) delegação dos Vigários. E a potestade destes não pode ser delegada de modo geral. Basta pensar na “seção feminina” para constatar que não há exagero nisto que se afirma. Na pastoral da Prelazia o exercício sacerdotal está submetido às indicações dos Diretores leigos, ao ponto de que estes assumem a direção pessoal das consciências ou os conselhos que se dão na direção espiritual pessoal das almas (cf. Vademecum de sacerdotes p.41). Quem cuida da direção espiritual, em última análise, é um grupo de leigos, baseados na idéia de que o Espírito Santo os assiste em razão de seu carisma singular. Os Bispos e a Santa Sé desconhecem essa realidade. De fato, a orientação “pessoal” das consciências está entregue àqueles que exercem os cargos de governo, os Diretores, e isto contraria todas as prescrições do Código de 1983. Basta o exemplo da proibição do cânon 630 §5, pois toda a pastoral do Opus Dei atual se fundamenta sobre esse inculcar a obrigação de abrir a intimidade da alma ao Diretor imediato. Existe uma deliberada confusão de níveis, uma intencional não-distinção entre foro interno e externo, que traz consigo um exercício abusivo da potestade outorgada ao Prelado da Prelazia pessoal. Além disso, pratica-se impunemente a violação da confidencialidade devida a todas as conversas ou Confidências de direção espiritual pessoal, com base na afirmação de que a direção espiritual compete à instituição (e nao às pessoas que espiritualmente acompanham cada fiel) e com base também numa interpretação sobre o “silêncio de ofício” — contrária à doutrina da Igreja e à sua disciplina canônica — que exime os Diretores dessa obrigação perante os seus superiores na linha hierárquica. Todos estes temas devem ser tomados a sério pela Santa Sé, pois a própria Prelazia atual considera esses seus procedimentos como ações feitas com “bom espírito” e, no entanto, nenhum deles foi considerado ou aprovado pela autoridade da Igreja, nem constam dos Estatutos do Opus Dei. Mais ainda, como a própria instituição tende a ver-se como um análogo das Igrejas Particulares, coisa certamente discutível, ocorre que sua pastoral está sendo exercida com a violação da disciplina canônica comum, e em nome da Igreja, o que é agir contra o direito. Finalmente, não deixa de ser um despropósito que os dirigentes leigos tenham tal missão espiritual preponderante, quando, de acordo com o novo regime do Opus Dei, a Prelazia Pessoal nem sequer esses membros o são plenamente.
  2. Maript: “Aspirantes”: “La palabra 'aspirante' aparece muy de pasada en el Derecho Particular de la Prelatura de 1982: 20. § 1. 4°. Estas constituciones son las que se entregan a los obispos de las diócesis donde el Opus Dei está instalado. Toda la reglamentación sobre los Aspirantes está recogida en el reglamento secreto (secreto hasta que se colocó en esta web) pero secreto oficialmente, Vademecum de los Consejos Locales, páginas 19, 20, 21 y 22, hoy sustituido por el Vademécum del Gobierno Local de 19 de marzo de 2002). Los directivos del opus entregan a la Santa Sede y a los obispos de diversas diócesis, un papel mojado, una serie de folios repletos de reservas mentales, porque las Constituciones aprobadas no reflejan en absoluto cómo funciona y cómo se rige la prelatura”, y Alberto Moncada: “Niños en el Opus Dei”, revista El Siglo, nº 608, mayo 2004).
  3. Seventeen Years in Opus Dei”.
  4. Sharon Clasen, “How Opus Dei is Cult-Like”, e Alberto Moncada, “Perfiles sectarios del Opus Dei”.
  5. Galileo, “Posibles demandas judiciales”.


A partir de http://www.periodistadigital.com/religion/object.php?o=214913