Opus Dei e o medo da verdade

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Quando se lêem em sites críticos ao opus dei, respostas e acusações como as de Pedro Juan Fernández Cueto em Opuslibros, que transcrevo abaixo,

"Uma página que não dá nomes é uma página covarde.
Uma página que só narra o mal e não se detém em narrar o bem, é uma página ressentida.
Uma página que publica livros internos (não secretos) do Opus Dei é uma página fofoqueira.
Uma página que detalha os por quês (não me dei ao desprazer de ler) de quem decidiu ir-se, é uma página amargurada."

Por vezes chegamos a refletir se os propósitos de sites como o nosso são honestos e justos.

No entanto, vale a pena lembrar-nos dos métodos utilizados pelo Opus Dei para o recrutamento, tão bem descritos em documentos internos como o Vademecum para Conselhos Locais, que no primeiro capítulo, onde se aborda a Incorporação ao opus dei, diz: “... Para secundar a ação da graça, procura-se conduzir-las por um plano inclinado, de maneira que vão adquirindo, pouco a pouco, uma sólida vida interior... Ao mesmo tempo, procede-se (...) para chegar a uma amizade sincera, conhecer bem essas pessoas e comprovar que possuem as qualidades e as disposições próprias da vocação ao Opus Dei. Esse modo de atuar é um dever de justiça com a Obra...”.

Todos os que conhecemos o Opus Dei, desde os rapazes e moças de São Rafael, os senhores e senhoras de São Gabriel e até os membros da prelazia, sabemos que a maneira descrita acima é o modo padrão de recrutamento utilizado. O depoimento de Márcio Fernandes da Silva mostra um exemplo típico dessa maneira de recrutamento. O conceito de plano inclinado, no entanto, não é utilizado apenas na “formação” ou recrutamento no trabalho de São Rafael ou São Gabriel, mas também após a entrada desse na prelazia.

A Regra Beneditina foi escrita no século VI e é uma das primeiras formas de busca da perfeição e santidade da Igreja Católica. Gostaria de transcrever o modo como é feita a admissão de um monge em um mosteiro ou abadia, trata-se do Capítulo 58 da Regula Benedictina:

CAPÍTULO 58 - Da maneira de proceder à recepção dos irmãos.Apresentando-se alguém para a vida monástica, não se lhe conceda fácil ingresso (...) [3] Portanto, se aquele que vem, perseverar batendo à porta e se depois de quatro ou cinco dias, sendo-lhe feitas injúrias e dificuldade para entrar, parece suportar pacientemente e persistir no seu pedido [4] conceda-se-lhe o ingresso (...) Sejam-lhe dadas a conhecer, previamente, todas as coisas duras e ásperas pelas quais se vai a Deus. Se prometer a perseverança na sua estabilidade, depois de decorridos dois meses, leia-se-lhe por inteiro esta Regra, (...) Se ainda ficar, seja então conduzido à referida cela dos noviços e seja de novo provado, em toda paciência. Passados seis meses, leia-se-lhe a Regra, a fim que saiba para o que ingressa. Se ainda permanece, depois de quatro meses, releia-se-lhe novamente a mesma Regra. E se, tendo deliberado consigo mesmo, prometer guardar todas as coisas e observar tudo quanto lhe for ordenado, seja então recebido na comunidade, [15] sabendo estar estabelecido, pela lei da Regra, que a partir daquele dia não lhe é mais lícito sair do mosteiro, [16] nem retirar o pescoço ao jugo da Regra, a qual lhe foi permitido recusar ou aceitar por tão demorada deliberação.

As diferenças de modo de admissão são enormes. Enquanto na Ordem Beneditina a pessoa descobre sua vocação e a Ordem mostra repetidamente ao candidato o que significa submeter-se à regra, fazendo com que a leia e releia diversas vezes, expondo todas as dificuldades inerentes a essa entrega, o Opus Dei cria a crise vocacional onde, muitas vezes, ela não existe. Usa a técnica do plano inclinado que vai mostrando paulatinamente as privações a que o membro será submetido.

O futuro membro não tem conhecimento, no momento da "crise vocacional", por exemplo, que deverá submeter sua profissão à vontade dos diretores. Ele não sabe, quando passa a ser aspirante, que é um aspirante e, portanto, pode sair a qualquer momento. Ele não sabe que, ao escrever a carta ao Padre, todas suas correspondências serão abertas e lidas.

Pode-se então afirmar que “uma página que não dá nomes é uma página covarde?” Não seria covardia maior utilizar o conceito de “plano inclinado” a um garoto ou garota de 14 anos e meio sem contar-lhe totalmente o que acontecerá com sua vida, proibindo-os de contar aos pais a decisão que estão para tomar? Ademais, por acaso os numerários declaram publicamente sua condição como o fazem os monges beneditinos ou outros religiosos? Onde está a coragem de mostrar ao vocacionado todas as restrições e provações a que será submetido? Conta-se ao futuro numerário “em crise” vocacional, por exemplo, que ao pedir admissão terá que usar cilício e disciplinas?

Pode-se dizer, é verdade, que o nosso site é uma página ressentida. Ressentida de sentirmos-nos traídos no que havia de maior dentro de nós, que era a vontade de entrega total a Deus. Os ex-membros entregamos nossa vida a Deus... para depois constatarmos que tornamo-nos mercadores de Círculos de Leitura ou para vermos nossas reais amizades sendo instrumentalizadas em números de “amigos” da nossa listinha de apostolado.

Pode-se chamar de fofoqueira uma página que publica documentos religiosos, registrados na Santa Sé e que deveriam ser públicos como o é a Regra Beneditina ou a Regra de São Francisco de Assis? Não seria obrigação do opus dei publicar as Constituições de 1950 para que todos a conhecessem? Por que escuso motivo Escrivá a quis secreta? Ex-numerários que ficaram mais de 30 anos no opus dei nunca viram nem sombra das Constituitiones Societatis sacerdotalis sanctae crucis et operis Dei”. Escrivá quis que as constituições fossem escritas em latim e nunca fossem traduzidas a nenhuma outra língua (versão em latim e inglês). Essa vocação ao secreto, ao modo de atuar como seita, é característico do opus dei e é inculcado na mente de cada um dos membros. Freqüentemente ao falar da “discrição” que deveríamos ter, Escrivá empregava a frase “porque me dá la gana, que es el más sobrenatural de los motivos”.Para pessoas que acreditam que os segredos do opus dei são “coisas de família”, qualquer revelação desses segredos é fofoca.

Se lemos as constituições de 1950 com cuidado, fica claro o motivo pelo qual Escrivá não queria que os segredos fossem revelados, que os membros se declarassem membros, ou que houvesse qualquer vinculação ao status clerical ou religioso. No Capítulo I Parágrafo 3.2 está a revelação um pouco velada dos objetivos do instituto: “Mas o específico é esforçar-se com todo o empenho para que a classe que se chama intelectual e aquela que, ou por razão de sabedoria que a distingue ou pelos cargos que exerce, ou pela dignidade pela qual se destaca, é diretora da sociedade civil, adira aos princípios de Nosso Senhor Jesus Cristo e ponha-os em prática...”.

Fica claro qual era o objetivo de esconder a verdadeira missão: o membro do opus dei deveria infiltrar-se nos mais altos postos possíveis da sociedade civil para que a partir desses altos postos pudesse “obrigar” todos a aderirem aos princípios que ele acreditava serem verdadeiros. Seria absolutamente impossível essa infiltração velada se o membro do opus dei usasse hábito religioso, declarasse ser membro do opus dei ou expusesse a todos seus afazeres religiosos.

Por fim, afirma-se que uma página como www.opuslivre.org, que conta os porquês de quem se decidiu a ir embora da obra, é uma página amargurada. Talvez haja, sim, uma certa amargura ao olhar para trás e ver quantos anos de nossas vidas foram perdidos (completamente perdidos) em um projeto viciado e espúrio. Mas a grande realidade é que, apesar de relatar episódios trágicos, esta página e páginas semelhantes como http://www.opuslibros.org e http://www.odan.org, tem uma única finalidade: mostrar às pessoas o que é realmente o opus dei. Não há amargura aqui, há apenas um dever de caridade cristã, de evitar que essa instituição faça novas vítimas, e, por outro lado, ajudar os que foram vítimas.

Somente os ex-membros da obra conhecem-na profundamente. Somente os ex-membros têm as informações necessárias para um julgamento completo. É nosso dever alertar o mundo sobre as barbáries que aconteceram e continuam acontecendo nessa instituição que se diz “revelada por Deus”.

DF